27.10.06

A paixão e o amor.



Na marginal de Cascais. Final de tarde de domingo. Cinco e meia da tarde. Decidiram desligar o rádio da carrinha para fazer silêncio. Uma delas perguntou: Nuno, fala-nos da paixão e do amor. Vocês não preferem serem vocês a falar primeiro e eu fico para o fim? A paixão é superficial, respondera prontamente uma delas. É superficial porque não se aguenta. Aquela marginal estava cheia de rotundas e sinalizações. Com um ouvido na estrada e outro na conversa, procurava memorizar todas as questões. Como é que eu sei se gosto realmente daquela pessoa? Desculpem, viro aqui à direita? Eu a mim, disseram-me que a paixão dura dois anos. Pois não sei…vá lá Nuno o que é que achas?

Pessoalmente - respondi - vejo que a paixão vive muito dos sentidos – do que se sente, ou do que não se sente – e de uma adrenalina sensível em que a opção obedece passivamente às pulsações vertiginosas do coração. A paixão, sendo passageira, procura satisfazer egocentricamente o apaixonado. A pessoa satisfaz-se no beijo e no abraço com o risco de coisificar o amante. O outro torna-se objecto da minha satisfação amorosa. Se a paixão vive dos sentidos, o amor vive do sentido. O sentido profundo da relação altruísta, toda ela voltada para o outro. É passagem do egocentrismo – o eu como centro gravitacional das relações – para o altruísmo – o outro como centro.

E no amor a sensibilidade apaixonada diminui para dar lugar a uma relação renovada, inteira e profunda. A pessoa abandona os apetites, a gulodice, o sentimento da posse para entrar da dimensão do querer e da aceitação da diferença. Nuno, na próxima rotunda viras à esquerda! E portanto, parece-me que pode ser isto: amar é sair da nossa rotunda de interesses e de apetites e sair amorosamente ao encontro da vontade do outro.

Tá bem Nuno mas, no casamento já não se vive apaixonado? É possível amar sem sentir? O que é que se faz quando já não se sente? É preciso experimentar uma relação fora do casamento para sabermos se ainda amamos a pessoa?

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