19.12.08

Uma mulher mais livre


A propósito do artigo de Anselmo Borges, «A Imaculada Conceição» (Diário de Notícias de 06/12/08), o Cónego José Manuel Ferreira, prior de Santa Maria de Belém, escreveu um texto que enviou ao Director daquele jornal com pedido de publicação. Em: http://www.paroquia-smbelem.pt/

UMA MULHER MAIS LIVRE

No seu artigo "A Imaculada Conceição", Anselmo Borges afirma que esta festa "está infestada com equívocos", mas é o seu texto que está repleto de imprecisões e equívocos. Vejamos alguns.

Começa por citar Santo Agostinho, a quem apresenta como autor da doutrina do pecado original, "transmitido a todos, por herança, no acto sexual". Seria importante dizer, no entanto, que a Igreja Católica nunca ratificou este ponto de vista nos seus documentos oficiais.

Mas Anselmo Borges não o faz e, em vez disso, sem mudar de parágrafo, na mesma linha, acrescenta: "Houve uma excepção: Maria foi concebida sem a mancha do pecado original".

Desafio Anselmo Borges a citar um único texto, entre as centenas de obras de Santo Agostinho, em que esta afirmação, ou qualquer outra semelhante, apareça.

Mas desde já lhe sugiro que se poupe a este trabalho, porque seria inútil. Santo Agostinho nunca diz, em momento nenhum, que Maria foi concebida sem pecado.

O mesmo acontece com outros grandes nomes do pensamento cristão, como S. Bernardo, Santo Anselmo, S. Boaventura e S. Tomás de Aquino.

Anselmo Borges parece desconhecê-lo, mas nenhum destes grandes teólogos aceitou a Imaculada Conceição de Maria.

O povo aceitava-a e celebrava-a, pelo menos desde os séculos VII e VIII. Mas os teólogos, apesar da sua grande devoção por Maria, opunham-se, porque não a conseguiam justificar teologicamente, isto é, racionalmente.

Qual era o problema?

O problema era que tomavam a sério o que diz S. Paulo na Epístola aos Romanos, capítulo 5, versículo 12: "Por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte".

Tomando a sério este texto, todos acreditavam que no início da história da humanidade tinha havido um acto de desobediência a Deus, que marcou a história futura.

Foi um acto que isolou os homens de Deus. O egoísmo isola. Devíamos ser canais da vida de Deus para os outros e já não somos.

E por isso nascemos mais pobres, mais fragilizados.

Vimos ao mundo com esta dignidade espantosa de sermos homens e mulheres, mas nascemos sem a vida de Deus, a que se chama "graça", e que só depois poderemos recuperar, como fruto da vida, da morte e da ressurreição de Jesus Cristo.

É esta a doutrina cristã do "pecado original". Não tem nada a ver com sexo, ao contrário do que Anselmo Borges se esforça por fazer crer. Não tem nem nunca teve nada a ver com virgindade física, ou com o seu contrário, como Anselmo Borges insinua sem nenhum fundamento.

É uma limitação puramente espiritual. Desequilibra a vida em muitos aspectos. Mas a sua sede é o "espírito" ou o "coração" humano.

Todos os grandes autores que citei, acreditavam que Maria também começou a existir privada dessa dotação espiritual, que é a vida de Deus. Só num momento posterior é que Deus lhe concedeu a "graça", e assim a santificou e a tornou digna de vir a ser um dia a Mãe de Jesus. E por isso não admitem que tivesse sido "imaculada" desde que foi concebida.

Mas houve um outro teólogo medieval, chamado João Duns Escoto, falecido há setecentos anos, em 1308, que compreendeu que Deus tinha uma outra maneira de santificar Maria: era não a deixar ser "apanhada" por esta situação de privação em que todos começamos a existir. Era envolvê-la com a sua graça desde o primeiro momento.

Quando, da união dos seus pais, resultou um novo ser humano, que se viria a chamar Maria, a "onda" do amor de Deus chegou até ela. A "mancha" desse antigo egoísmo que já vem de longe não a afectou. Foi "imaculada" desde a concepção. Foi "cheia de graça", como lhe chamou o Anjo, em S. Lucas.

Em 8 de Dezembro de 1854, Pio IX definiu este dogma, e, inspirando-se em Duns Escoto, afirmou que Maria, "desde o primeiro instante da sua concepção (…) foi preservada de toda a manchado pecado original".

O efeito deste "privilégio" foi que Maria, habitada pela presença de Deus desde o momento primordial da sua vida, foi uma mulher mais livre, mais aberta a Deus, mais atenta aos outros. Quando o projecto de Deus a desafiou a jogar a vida, não hesitou. Com alegria, pôs a sua vida ao serviço dos outros.

Ao contrário do que diz Anselmo Borges, a Imaculada Conceição de Maria não envergonha nem humilha as outras mulheres, nem os outros homens. Ver alguém muito melhor do que nós é um estímulo, não é uma humilhação.

Ver alguém como Maria, a quem o egoísmo e a auto-suficiência não dominam, só pode ser para os homens e mulheres normais causa de alegria e fonte de esperança, até porque nos estimula a ser um pouco mais parecidos com ela.

José Manuel dos Santos Ferreira

Visto em
O Povo

5.11.08

CATÓLICOS POR OBAMA?


A vitória de Barack Obama, un afro-americano, terminou com um dos grandes temores e mitos da sociedade norte-americana.

A partir de agora, a cor da pele deixa de ser um estigma na política. Fica demonstrado que o cargo mais importante do mundo não depende da raça. Houve certamente brancos que optaram pelo senador do Partido Democrata como terá havido negros que votaram em John McCain.

O que, segundo as pesquisas, continua a existir é uma linha divisória social em torno da religião. Ambos os candidatos parecem ter repartido os eleitores conforme as diferenças de credo religioso.

De acordo com os inquéritos realizados à boca da urna e que foram difundios pela prestigiada CNN, Jonh McCain ganhou claramente entre os protestantes e Barack Obama triunfou entre os votantes católicos.

Dos entrevistados 55% definiram-se como protestantes, dos quais 53% votaram no candidato republicano. Os católicos, por sua vez, somaram 26% dos votantes, dos quais 53% optaram pelo democrata.

No caso dos judeus, nada de racismo: são 2% dos votantes e alinharam por Obama, entregando-lhe 78% dos seus apoios.
Fonte: Mansidão

4.11.08

DESCULPEM O PALAVREADO, MAS SE NÃO FOR ASSIM, NÃO TEM PIADA


Um pai. Um miúdo de 11 anos. Um trabalho escolar.
- Pai, preciso de fazer um trabalho para a escola! Posso fazer-te uma pergunta?
- Claro, meu filho, qual é a pergunta?
- O que é a política, pai?
- Bem, política envolve: Povo; Governo; Poder econômico; Classe trabalhadora; Futuro do país...
- Não entendi nada. Dá para explicares melhor?
-Bem, vou usar a nossa casa como exemplo: Sou eu quem traz dinheiro para casa: então eu sou o poder econômico. A tua mãe administra, gasta o dinheiro: então ela é o governo. Como nós cuidamos das tuas necessidades, tu és o povo. O teu irmãozinho é o Futuro do país e a Zefinha, a nossa criada, é a classe trabalhadora. Entendeste, filho?
- Mais ou menos, pai. Vou pensar.
Naquela noite, acordado pelo choro do irmãozinho, o menino, foi ver o que havia de errado. Descobriu que o irmãozinho tinha sujado a fralda e estava todo emporcalhado. Foi ao quarto dos pais e viu que a mãe estava num sono muito profundo. Foi ao quarto da criada e viu, através da fechadura, o pai na cama com ela. Como os dois nem ouviram o menino a bater à porta, ele voltou para o quarto e adormeceu.
Na manhã seguinte, à hora do café, o miúdo falou com o pai:
-Pai, agora acho que entendi o que é a política.
- Óptimo, filho! Então explica-me com palavras tuas.
- Bom, pai, acho que é assim: Enquanto o poder econômico está por cima da classe trabalhadora, o governo dorme profundamente... O povo é totalmente ignorado e o futuro do país fica na m...!!!
(enviado por email)
Lido em Asas da Montanha

23.8.08

Actriz de Hollywood num convento de clausura


Nunca é tarde para aprender algo de novo.

A actriz
Dolores Hart, foi nada menos do que a primeira a beijar no cinema um jovem chamado Elvis Presley (no filme “Loving you”). O mais surpreendente é que esta actriz, desde há muitos anos, é uma monja de clausura (actualmente, é a prioresa das noviças do Mosteiro Regina Laudis, de Bethlehem, Connecticut).


Preguntam-me sempre por isso, como é lógico”, explica a madre Dolores, que recorda Elvis como “um jovem gentil e tímido, com as orelhas roxas por de ter que repetir a cena do beijo. E eu não sabia quem era, pois naquele tempo não era tão famoso. Achava-o muito simpático porque me chamava menina Dolores. Em Hollywood, só ele e Gary Cooper me chamavam assim. Elvis era um jovem bom e sensível, mas com o decorrer dos anos notava que estava cada vez mais triste e só, terrivelmente infeliz”.
Dolores Hart diz que mesmo antes de ter cumprido vinte anos apercebeu-se que “trabalhar no cinema dava-me menos alegria do que esperava”. Assim, o adeus aos estúdios aconteceu em 1961, depois da rodagem de “Francisco de Assis”, de Michael Curtiz, no qual interpreta o papel de Clara.
Nestes anos, a sua vocação de religiosa de clausura não a impediram de manter o contacto com muitos actores, que vão com frequência ao mosteiro “para encontrar uma resposta à sua confusão e as suas feridas”. E ela está contente por estes encontros serem uma ocasião para reconciliar-se com Deus.

No blog: Padres Inquietos

8.8.08

Não deixa que a mãe parta


Perdeu o pai aos 3 anos. A partir daí, ele e a mãe, viveram numa cumplicidade de amor até hoje. Fui presidir ao casamento dele. A mãe encontra-se, hoje, em fase terminal. Ele passa o dia e a noite junto dela. Não a quer perder. Dói a alma vê-los juntos: fazem-se carícias, choram. Ele não quer mesmo deixar partir a mãe. Um e outro estão conscientes da situação. Esta manhã estive com ele, primeiro, e, depois, com os dois ao mesmo tempo. Conversámos de tudo. Até do fim que se avizinha. Ele teve de sair uns segundos para atender um telefonema.
A mãe segredou-me: "Ele diz que está conformado. Mas não está! Eu noto que não.". Por muito que a mãe esteja cansada de sofrer e queira 'partir', ele não deixa.
"Amo-te muito, mãe!"
"Eu também te amo muito, filho!"
Saí com a alma a doer. Como será amanhã?
No blog: Migalhas


22.7.08

Onde está o progresso?


Falando na sessão de encerramento do Congresso Nacional da Juventude Socialista (JS), o primeiro-ministro disse:
- Este governo tem «uma visão progressista e não conservadora»...
- «Não venho dar lições de moral, nem dizer-vos como os jovens se devem comportar e muito menos venho aqui para vos dizer que o principal objectivo da família é a procriação".
- Este é «um governo que se orienta por valores progressistas e que recusa todas as visões do passado, retrógradas e baseadas em visões conservadoras».
- A lei da interrupção voluntária da gravidez, da paridade, da procriação geneticamente assistida e da nova lei do casamento civil ... «são exemplos desta legislatura, marcada por um grande avanço social e uma visão progressista para a sociedade».
- «Acredito num país sem preconceitos, um país confiante em si próprio, um país jovem e ambicioso».

A " visão progressista e não conservadora» deste governo está aí:
- Uma taxa de desemprego sem igual em 30 anos de democracia...
- Fábricas a fecharem umas atrás das outras...
- O custo de vida a crescer..
- O empobrecimento voraz da classe média...
- A economia que não arranca e desfaz todas as perspectivas do governo...
- As desigualdades sociais que nunca foram tão agudas...
- A insegurança reinante
- O caso da "Quinta da Fonte" e o Carjacking que não cessa de aumentar são apenas duas pontas do iceberg...
- A emigração silenciosa que faz lembrar os anos sessenta...
- A justiça que não funciona...
- O imenso deserto em que transformou a educação
- A saúde que (não) temos...
- etc, etc, etc

Este é o país "jovem e ambicioso" que nos deixa o senhor Sócrates!!! Ou serão antes "as visões do passado, retrógradas e baseadas em visões conservadoras», que diz combater?
Para este senhor e seu governo o importante é fazer tudo para arruinar a família, despoletando políticas que a ponham em causa, a diminuam, a cerceiem.
"Aliás, este executivo é o primeiro que, no seu Programa de Governo aprovado em 2005, não incluiu uma secção sobre os problemas da família ou menção sobre a grave decadência demográfica de Portugal." (João César das Neves)
O seu forte e o seu progressismo estão nas medidas fracturantes: o aborto, a nova lei do casamento civil, e agora admitem discutir na próxima legislatura o casamento homossexual..
A visão deste governo acerca da família não é retrógrada, porque é obsoleta!"
Não consegue entender aquilo que ensinam todos os autores sérios de Sociologia, Demografia, Economia e Ciência Política, que a crise da família é a principal causa comum de todos estes problemas e são necessárias medidas rápidas e inteligentes para lidar com algo que, sendo de enorme complexidade, pode destruir a cultura, sociedade e economia portuguesas." (João César das Neves)
O senhor Sócrates, num acto de ilusionismo puro, aparece então a arranjar à pressa uns apoios à natalidade que além de inúteis são quase patéticos.

"É doutrina da Igreja que o matrimónio é um sacramento do amor de Deus com uma dupla finalidade: união entre os esposos e procriação.
Que um actor político, questionado sobre esta matéria, expanda as suas convicções será motivo para ser apodado de pré-moderno e ante-conciliar? Que se saiba, o Concílio reafirmou a doutrina cristã sobre o matrimónio e a família. João Paulo II e Bento XVI não têm cessado de no-lo recordar.Espanta, por isso, que o senhor Primeiro-Ministro venha mofar de um adversário brandindo convicções respeitáveis.Mas o mais espantoso é que se apresente como progressista documentando tal posição na promoção do aborto e na facilitação da dissolução da família.
Onde está o progresso?" (Theosfera)

No blog: Asas da Montanha

15.7.08

Dádiva



Por a minha filha ter cumprido com algo que tínhamos combinado, resolvi oferecer-lhe um presente: uma ida a um musical em exibição em Lisboa.
Quando lhe falei na oferta, ela não se mostrou muito entusiasmada de início, alegando que o presente não era palpável, que não o podia tocar com as mãos.
Eu disse-lhe que nem todas os presentes são palpáveis.
E expliquei-lhe que quando ela assistisse ao musical iria gostar e perceber que era um presente que iria gostar tanto ou mais que os que ela podia tocar.
No fim do musical, ela disse que tinha gostado muito da prenda e estava muito feliz por ter recebido um presente tão especial e diferente.


Então lembrei-me de uma dádiva maravilhosa que Deus também me deu.
A mim e a toda a humanidade.
Ela não é palpável, não se pode tocar com as nossas mãos, mas está ao acesso de todos quanto queiram tomar posse desse presente maravilhoso.
Não vemos - ainda - a dimensão, o alcance de tão preciosa dádiva.
Mas um dia, iremos não só, contemplá-la, como perceber o quanto é imensa.
Ainda que nesta hora já a possamos desfrutar e perceber um pouco como é, quando olharmos face a face o rosto meigo, o olhar manso de Jesus, poderemos entender em toda a sua imensa plenitude, essa preciosa dádiva de Deus para nós.
Não nos custou nada a nós, mas teve um alto preço para Deus.
Como não tomar posse de tão maravilhoso presente?

7.7.08

Uma fé que irradia, comove, impressiona


Ingrid Bettancourt… há 6 anos que este nome começou a soar familiar aos nossos ouvidos, quando foi noticiado o rapto desta franco-colombiana por guerrilheiros das FARC, na Colômbia, em 2002.
Hoje, Ingrid está livre e o seu testemunho é esse: ao longo do seu cativeiro, foi a fé que a conduziu. É essa mesma fé que a faz dizer aos jornalistas e ao mundo inteiro “graças a Deus” pela sua libertação.
Outro facto que marca… logo à descida do avião que a tinha arrancado das mãos dos seus algozes, Ingrid ajoelhou-se com a sua mãe ao lado e alguns reféns. Fizeram o sinal da cruz, recitaram 3 avé-marias e uma glória. Um padre estava lá, vestido de alva e de estola, e os abençoou.
“Quero primeiro dar graças a Deus e aos soldados da Colômbia” dizia ela, alguns minutos antes, agradecendo também a oração de todos aqueles que se lembraram dela ao longo dos anos, “é um milagre”. A fé foi sem dúvida o que permitiu à Ingrid sobreviver a 6 anos e 4 meses de cativeiro.


Numa carta tornada pública no último mês de Dezembro, ela confidenciava que a Bíblia era o seu “único luxo”; que “cada dia, comunico com Deus, Jesus, a Virgem (…). Aqui, tudo tem duas faces, a alegria vem, e depois a dor. A alegria é triste. O amor pacifica e abre novas feridas… é viver e morrer de novo.”
O seu testemunho continua assim: “Durante anos, pensava que enquanto estivesse viva, enquanto continuaria a respirar, deveria continuar a ter esperança. Já não tenho as mesmas forças, é-me difícil continuar a acreditar.” Mas desejava: “que Deus nos venha em auxílio, nos guie, nos dê paciência e nos preencha. Para sempre e até sempre.”
Na passada Quinta-feira 3 de Julho, ela também teve algumas palavras para com os seus antigos sequestradores: “Vi o comandante, que durante tantos anos foi responsável por nós, e que ao mesmo tempo foi tão cruel connosco. Vi-o no chão, os olhos vendados. Não penseis que estava contente, tive pena por ele, porque é necessário respeitar a vida dos outros, mesmo se eles são nossos inimigos.”
Ingrid falou no passado, e fala hoje de paz e não de vingança.
Esta mulher é habitada, inspirada por Alguém que a ultrapassa.
Na próxima semana ela irá até Roma ver o Santo Padre.
A fé de Ingrid irradia, comove, impressiona.
Louvado seja Deus.

No blog: Sedente




4.7.08

Deus tem ou não tem a ver com a nossa vida?




Ontem,

Ferreira Fernandes no DN ironiza com a alegada cura de Ana Maria em
Os milagres pagam-se alegando que se a cura foi milagrosa, Ana Maria deve devolver, em dobro, à Junta de Freguesia (onde ela trabalhava) os três anos de baixa.

Ontem,

Baptista-Bastos escandaliza-se com o Preco das Missas , aproveitando para colocar a mesma pergunta do título desta mensagem, ao questionar, citando Marcel Neusch que “Deus deixou de ser contestado porque, para muitos, Ele deixou de fazer parte das questões que interessam aos homens”?

Hoje,

Impressionou-me ouvir Ingrid Bettancourt, recém-liberta, de um cativeiro de 6 anos, à saída do avião, agradecer em primeiro lugar a Deus.

Impressiona-me, sem ser capaz de discernir onde está a verdade, ler como, Ana Maria , os irmãos e os pais, se alegram com o facto de ela já não sofrer da doença de que padecia, contentes com a coisa simples de poder voltar a trabalhar. (versão impressa do DN de 3 de Julho de 2008, não disponível on-line) enquanto aguardam o inquérito iniciado pela entidade patronal, a Junta de Frequesia de Ponte de Lima.

Enquanto Ferreira Fernandes acha que os milagres devem ser pagos porque tudo o que se passou anteriormente não passou de um embuste (mesmo antes do inquérito da Junta de Freguesia) e Baptista Bastos acha que Deus está no mercado, simplesmente porque houve uma actualização das tabelas de serviços religiosos, o que lhe deveria ser mais ou menos indiferente, uma vez que Ele deixou de fazer parte das questões que interessam aos homens, Ana Maria e Ingrid Bettancourt agradecem! Agradecem o simples facto de estarem vivas, reconhecendo que não tendo sido elas que se deram a vida a si mesmas, Alguém quis que existissem e olha previdentemente para o seu destino.

Como Ingrid diz, é razão, para em primeiro lugar, agradecer a Deus e à Virgem e, só depois, à efectiva e competente acção do ”meu” exército, do “exército do meu país”.

É, perante a realidade que podemos avaliar o valor, a intensidade e, em última análise, a certeza das afirmações.

O que nos vale é que, mesmo sem a aprovação dos articulistas do DN, a Igreja olha para a realidade e procura discernir nela os sinais de Deus. É, por isso, particularmente reconfortante saber que o papa reconheceu hoje um milagre do Beato Nuno de Santa Maria.

Há uma diferença entre quem fala do que sabe e quem fala do que acha que sabe.

E nós, o que sabemos?

Ele tem ou não tem a ver com a nossa vida?

Abraço com amizade

Pedro Aguiar Pinto


No blog: O Povo




1.7.08

Um tema paulino: a fraternidade

"Irmãos... carregai as cargas uns dos outros e assim cumprireis plenamente a lei de Cristo" (Gl 6,2). A liberdade dos filhos de Deus torna-nos irmãos uns dos outros. Ninguém é senhor nem proprietário de ninguém e ninguém é radicalmente estranho a ninguém, porque todos somos filhos do mesmo pai e irmãos em Jesus Cristo. Daí o frequente hábito de os cristãos se tratarem reciprocamente por irmãos.


Mas a fraternidade cristã não é simplesmente fraternidade entre cristãos. Ela abre-nos à fraternidade universal, uma vez que é universal a vocação é filiação divina, que a todos libertará.


Ora, os irmãos sentem-se responsáveis pelos irmãos, independentemente do interesse que nisso possam ter ou do proveito que disso possam retirar. Por isso, "carregar a carga uns dos outros" é a atitude que fundamenta verdadeira solidariedade, em que todos nos assumimos na mesma condição. A responsabilidade de uns pelos outros poderá ir mesmo até à substituição, isto é, até à capacidade de dar a vida uns pelos outros. Essa será a manifestação máxima da fraternidade e do amor ou caridade.

(Artigo de João Duque, in revista Mensageiro do Coração de Jesus, Junho/2008)

No blog: Paróquia do S. Sacramento

26.6.08

Ano Paulino


O papa Bento XVI proclamou um "Ano Paulino", para celebrar os 2000 anos do nascimento de São Paulo, com início na Solenidade dos Apóstolos Pedro e Paulo, a 29 de Junho de 2008, e a terminar um ano depois.
Paulo foi uma das figuras que marcou, de forma decisiva, a história do Cristianismo, o Apóstolo que anunciou o Evangelho em todo o mundo antigo, sem nunca vacilar perante as dificuldades, os perigos, a tortura, a prisão ou a morte.

Nasceu na cidade de Tarso, na Silícia, numa família judaica na diáspora, mas com cidadania romana. Paulo converteu-se com a "visão de Damasco" (Act 9,1-19; 22,4-21; 26,9-18) e posteriormente foi chamado a anunciar Cristo. Para isso percorreu muitos milhares de quilómetros, anunciando de cidade em cidade o "Evangelho" da morte e ressurreição de Jesus. Morreu em Roma, no ano 67.


Este Ano será oportunidade para todos conhecermos melhor a doutrina pregada por ele e copiarmos o seu exemplo de levar a Palavra de Deus a todos os que a não conhecem ou não a vivem.


Para ajudar nesse sentido, a Conferência Episcopal Portuguesa publicou uma nota pastoral intitulada "Ano Paulino, uma proposta pastoral", na qual os bispos portugueses assinalam que a Igreja de hoje "tem dificuldade em anunciar Jesus Cristo a uma sociedade cada vez mais secularizada".
"A Igreja hoje corre o risco de limitar o anúncio de Jesus Cristo àqueles que continuam no seu redil, compreendem a sua linguagem e conhecem as suas leis", alerta a conferência Episcopal.
Os Bispos procuram deixar claro que "evangelizar não é uma estratégia e não se reduz a um programa: é uma paixão de amor por Jesus Cristo e pelos nossos irmãos e irmãs".


Para viver este Ano, a Conferência Episcopal publicou um itinerário catequético, de 52 semanas, intitulado "Um ano a caminhar com São Paulo". Apresenta um tema para cada semana do ano e destina-se, além das pessoas individualmente, às famílias, aos grupos paroquiais, à pastoral juvenil e aos Movimentos.
In O Amigo do Povo/Ano Paulino

18.6.08

Noruega... para pensar


'Na Noruega, o horário de trabalho começa cedo (às 8 horas) e acaba cedo (às 15.30). As mães e os pais noruegueses têm uma parte significativa dos seus dias para serem pais, para proporcionar aos filhos algo mais do que um serão de televisão ou videojogos. Têm um ano de licença de maternidade e nunca ouviram falar de despedimentos por gravidez.'





'A riqueza que produzem nos seus trabalhos garante-lhes o maior nível salarial da Europa. Que é também, desculpem-me os menos sensíveis ao argumento, o mais igualitário. Todos descontam um IRS limpo e transparente que não é depois desbaratado em rotundas e estatuária kitsh, nem em auto-estradas (só têm 200 quilómetros dessas «alavancas de progresso»), nem em Expos e Euros.'




'É tempo de os empresários portugueses constatarem que, na Noruega, a fuga ao fisco não é uma «vantagem competitiva». Ali, o cruzamento de dados «devassa» as contas bancárias, as apólices de seguros, as propriedades móveis e imóveis e as «ofertas» de património a familiares que, em Portugal, país de gentes inventivas, garantem anonimato aos crimes e «confundem» os poucos olhos que se dedicam ao combate à fraude económica.'





'Mais do que os costumeiros «bons negócios», deviam os empresários portugueses pôr os olhos naquilo que a Noruega tem para nos ensinar. E, já agora, os políticos.

Numa crónica inspirada, o correspondente da TSF naquele país, afiança que os ministros não se medem pelas gravatas, nem pela alta cilindrada das suas frotas. Pelo contrário, andam de metro, e não se ofendem quando os tratam por tu. Aqui, cada ministério faz uso de dezenas de carros topo de gama, com vidros fumados para não dar lastro às ideias de transparência dos cidadãos. Os ministros portugueses fazem-se preceder de batedores motorizados, poluem o ambiente, dão maus exemplos e gastam a rodos o dinheiro que escasseia para assuntos verdadeiramente importantes.'




'Mais: os noruegueses sabem que não se «projecta o nome do país» com despesismos faraónicos, basta ser-se sensato e fazer da gestão das contas públicas um exercício de ética e responsabilidade. Arafat e Rabin assinaram um tratado de paz em Oslo. E, que se saiba, não foi preciso desbaratarem milhões de contos para que o nome da capital norueguesa corresse mundo por uma boa causa.'





'Até os clubes de futebol noruegueses, que pedem meças aos seus congéneres lusos em competições internacionais, nunca precisaram de pagar aos seus jogadores 400 salários mínimos por mês para que estes joguem à bola.

Nas gélidas terras dos vikings conheci empresários portugueses que ali montaram negócios florescentes. Um deles, isolado numa ilha acima do círculo polar Árctico, deixava elogios rasgados à «social-democracia nórdica». Ao tempo para viver e à segurança social.'

'Ali, naquele país, também há patos-bravos. Mas para os vermos precisamos de apontar binóculos para o céu. Não andam de jipe e óculos escuros. Não clamam por messias nem por prebendas. Não se queixam do «excessivo peso do Estado», para depois exigirem isenções e subsídios.'




É tempo de aprendermos que os bárbaros somos nós.

Seria meio caminho andado para nos civilizarmos.

No blog: Molhobico


Afectos e desafectos


Uma vida passada no estrangeiro: como emigrantes. Muito trabalho, poucas férias. Dois filhos. Lá os foram educando conforme o tempo e as possibilidades o permitiam. Chegado o tempo da reforma, o casal volta para a sua terra. Os filhos ficaram no país que os viu nascer e crescer.
Vêm a pensar gozar a reforma o melhor possível. Tinham o direito a isso. No entanto, sempre com uma vida regrada.
Mas... uma doença grave coloca a mulher de cama, donde nunca mais sairá. Um tumor a invade por completo de um momento para o outro. Os filhos são avisados: vêm cá passar uma semana.

A médica diz que a senhora está a necessitar de muito afecto e espera que os filhos lhe tragam o afecto necessário.
Primeira tarde de visita: chegam, dizem "boa tarde" e encostam-se à parede do quarto. Olham constantemente para o relógio. Passado 1/4 de hora dizem que têm de ir embora. "Mas ainda agora chegaram e já se vão embora!?!?", diz o pai. Eles replicaram: "Já te tínhamos dito que iríamos estar pouco tempo: temos de ir ver o jogo de Portugal!"
A noite é toda passada no jardim da casa a beber cerveja... a comemorar. Os vizinhos nem querem acreditar!
Durante os dias de estadia, o pai nunca é convidado para tomar seja que refeição for com eles. Retiraram todo o ouro que a mãe possuía. E lembram o pai de que era preciso dividir o dinheiro.

E lá partiu esta mãe, carente do afecto dos filhos.

E lá partiram eles com os bolsos cheios. Até sempre!


No blog: Migalhas também são pão

11.6.08

Devo muito à Igreja...


Convidada para ajudar num grupo pastoral da paróquia, apenas me disse: "Com todo o gosto. Devo muito à Igreja!"
Não lhe perguntei o quê, mas acredito que o mesmo poderiam e deveriam dizer muitíssimas outras pessoas. A igreja é decerto muito criticada, e às vezes não sem razão, – é composta por homens e mulheres imperfeitos – mas que seria o mundo sem ela?! Criticar é fácil, mas que outra instituição se pode comparar a ela no bem que tem feito.
Corria acesa a campanha eleitoral na Bélgica. Um deputado comunista dirigia a palavra a milhares de operários, em Bruxelas. Depois de ter apregoado a liberdade, criticado o capital, defendido as nacionalizações, elogiado os trabalhadores, exaltado o povo, atacou duma maneira agreste e desenfreada a Igreja Católica.
Acabado o discurso, perguntou se alguém desejava tomar a palavra. Adiantou-se um operário que disse assim:
– Eu não estudei, e não sei responder ao que disse o orador. Conto apenas um caso:
Há meses adoeceram os meus dois filhos. Uma freira vinha com frequência visitá-los, trazendo-lhes sempre alguma ajuda. As crianças curaram-se. Como a doença era contagiosa, a minha mulher caiu de cama, logo a seguir, com o mesmo mal. A Irmã levou as duas crianças porque ninguém em casa podia tratar delas. Tomou também sobre si o cuidado da minha mulher, que finalmente começou a levantar-se. Então caí doente também eu, mas a Irmã vinha sempre visitar-nos, trazia remédios, ajudava a minha mulher na vida da casa e tratava-me com muito jeito e caridade. Por último a Irmã contraiu o mesmo mal e não a tornámos mais a ver. Soube hoje que morreu. Não tenho mais a dizer (Mensageiro do Coração de Jesus, de Itália, 1951, pág. 390).
Facilmente se imagina o ambiente que aquele testemunho causou nos ouvintes. O político teve de enfiar a viola no saco e ir pregar para outra terra.
No blog: Ver para crer

9.6.08

Este Código de Trabalho agride os trabalhadores


D. Manuel da Silva Martins, o primeiro bispo de Setúbal, considerou este domingo que Portugal está marcado pela fome, principalmente junto dos idosos, sublinhando que o país está «mal disposto».
Escutado pela TSF, D. Manuel da Silva Martins frisou que «existe muita fome em Portugal, sobretudo nas famílias constituídas por reformados», onde o orçamento «vai quase todo para os remédios» dos idosos.
«Os responsáveis deste país deviam parar para reflectir um pouco e ver que caminhos deviam abrir para criar um clima de esperança em Portugal», disse aquele que se considera mais uma voz a juntar à de tantos portugueses que vivem mergulhados no desânimo perante as políticas sociais.

Questionado sobre a revisão do Código de Trabalho que já motivou uma manifestação, convocada pela CGTP, que juntou 200 mil pessoas em Lisboa, o primeiro bispo de Setúbal afirmou que o novo documento agride os trabalhadores.
«Este Código do Trabalho agride directamente a dignidade e a capacidade de sonhar sobretudo dos mais pobres e dos mais jovens», mas também das pessoas de meia-idade que ficam desempregadas, destacou, sublinhando que também este assunto merece «uma atenção redobrada por parte de quem manda».

No blog:
Asas da Montanha

4.6.08

“Quem passa a vida a julgar os outros fica sem tempo para os amar!”


“Quem passa a vida a julgar os outros fica sem tempo para os amar!”
(Madre Teresa de Calcutá)


Passamos a vida a julgar-nos uns aos outros! Parece que a nossa existência é para ser vivida na “barra do tribunal” e da constante avaliação de que somos alvos. Habitualmente o tribunal da vida é exigente e ainda mais cego que a justiça dos tribunais judiciais.
Toda a gente mede até ao limite aquilo que diz, aquilo que faz para que não haja segundas interpretações ou mal entendidos. Parece que precisamos fazer um auto de declarações cada vez que abrimos a boca…
Será que já não há gente genuína que não tenha medo de dizer o que pensa sem esperar ostracismo?! Será que não temos direito a pensar, de vez em quando, de forma diferente (quiçá errada!) sem que isso nos marque socialmente de forma definitiva? Haverá alguma lei que proíba termos o coração junto da boca?
No blog: A rede na rede

Oração na escola


«Deus escreve direito por linhas tortas» diz o povo e tem razão. Andam alguns a lutar contra os sinais religiosos nas escolas e outros lugares públicos. Até mesmo no nosso País o governo socialista mandou retirar os poucos crucifixos que ainda restavam em algumas escolas. Mas não há-de tardar muito que estas tenham de arranjar lugares de oração para quem o queira fazer. Pelo menos é o que se adivinha da notícia que alguns meios de comunicação social publicaram há dias e que resumimos a seguir:
«O Tribunal Administrativo de Berlim reconheceu o direito dos alunos muçulmanos a rezar nas escolas da cidade, às quais aconselhou a criação de salas de oração para aqueles estudantes».
«A sentença do tribunal dá razão a uma denúncia apresentada por um aluno do ensino secundário, de 14 anos, do Instituto de Ensino Médio Diesterweg, no bairro de Wedding de Berlim, que tinha reclamado o direito a orar pelo menos uma vez por dia durante uma pausa ou numa hora livre, de acordo com o jornal alemão ‘Berliner Zeitung’».
«A decisão judicial, para a qual foi interposto um recurso para uma instância superior pelas autoridades educativas da capital alemã, poderá tornar-se vinculativa para todas as escolas de Berlim, bem como de toda a Alemanha».
«O aluno, cuja identidade não foi divulgada, chamou a atenção da escola em Novembro último quando, com outros sete colegas, aproveitou uma pausa no horário para rezar num corredor da escola virado para Meca durante dez minutos».
«Ao tomar conhecimento do facto, a direcção da escola pôs-se imediatamente em contacto com os pais dos alunos, aos quais comunicou que o compromisso de neutralidade do Estado a obrigava a proibir aos alunos a prática da religião na escola.
Os pais do aluno de 14 anos e o próprio aluno apresentaram então uma queixa no Tribunal Administrativo de Berlim, cuja sentença dita que a liberdade de religião inclui também a liberdade da prática desta».
Se a sentença referida for confirmada pela Instância Superior, então não tardará que outros grupos religiosos requeiram os mesmos direitos, que terão de lhes ser concedidos. Na Alemanha e nos outros países da Comunidade Europeia. E lá irá por água abaixo o laicismo que muitos teimam em implantar na Europa. Graças ao temido Islão.
No blo: Ver para crer

2.6.08

Não sei o que é não ter emprego


As conversas particulares ou são segredos ou são receios ou são confidências. Às vezes são as três em simultâneo. Por isso entrámos no escritório para uma conversa particular. Eu sentado e ela em pé, como que para fugir na primeira dificuldade sem que eu tivesse oportunidade para agarrá-la, e como se a conversa não pudesse ser demorada.
Os pobres de hoje vivem assim, em pé para fugir, para não perder tempo, para não demorar a sensação das dificuldades, para não assumir que se precisa, para que ninguém possa murmurar a pobreza dos seus. Os pobres de hoje, que aumentaram em número e diminuíram o da classe média baixa, têm vergonha de precisar de ajuda.
O sorriso era forçado. Ter de justificar a sua necessidade precisava de um sorriso. Assim como precisava de sorrir para que os filhos sorrissem. Precisava de ajuda. Eu ouvia sem falar. Às vezes não conseguimos mais que ouvir, porque não sabemos as palavras ou gestos certos. E enquanto ela me falava das dificuldades da vida, lembrei-me de um jovem que, em tempos, decidira entrar no Seminário. Lembrei também as minhas gargalhadas quando me contaram que este, questionado sobre os motivos pelos quais queria ingressar no Seminário, respondera que assim tinha a certeza de arranjar emprego. Nada mais desapropriado, mas nada mais acertado. Emprego garantido. Trabalho sem horários definidos, mas sempre garantido. Remuneração indefinida, mas sempre garantida.
Por isso ao ouvi-la, senti-me atado. Estranhamente atado entre uma vida que escolhi por causa de Deus, mas que me facilita a causa dos homens. Reconheço que perante o meu trabalho, esforço e responsabilidade, a remuneração não é a suficiente. Mas perante a vida, os encargos e os outros, sinto-me um privilegiado. Não tenho nada. Porém, não me falta nada que, de facto, faça falta.
Escondi as mãos nos bolsos porque não sabia onde as colocar. Não fazia sentido ter uma mão aberta ou fechada. Não fazia sentido ter uma mão que não pudesse apertar outra. Era mais fácil escondê-la, atá-la, cerrá-la. Quando nos despedimos, retirei-a do bolso e mais o que lá estava. Mas o que é um peixe num mar imenso?! Sobretudo quando não se tem cana de pesca, rede ou barco?!
Claro que ser padre não é um emprego no verdadeiro sentido da palavra. É uma vocação, algo que se vive inclusive durante o sono. Ser padre define-me. Não é um atributo. Mas hoje, ao olhar aquele sorriso forçado, senti-me um privilegiado porque nunca senti o que é não ter emprego.
No blo: Confessionário de um padre