14.12.06

Uma viagem de risco, um acto de coragem




1. A visita do Santo Padre à Turquia confirmou, acima de tudo, a sua índole, o seu carácter. Bento XVI é um homem humilde, um pastor magnânimo, um verdadeiro Papa da Paz e da Reconciliação.


Era uma viagem de risco. Sê-lo-ia em qualquer circunstância, mas tornou-se ainda mais arriscada dadas as repercussões que o seu discurso em Ratisbona obteve.


Mostrou coragem em manter o programa. E revelou serenidade nas palavras e nas atitudes.


Os comentários incidiram, preferencialmente, sobre questões políticas e sobre a segurança.


É uma perspectiva legítima, mas desfoca o mais importante e desvia-nos do central. Como disse Sua Santidade à chegada, a sua peregrinação foi (como não podia deixar de ser) pastoral, apostólica. Inscreve-se, portanto, no âmbito da sua missão.


Como é óbvio, a missão do Sucessor de Pedro tem incidência na vida da polis. A mensagem de Jesus Cristo dirige-se à vida concreta das pessoas. Não paira no vácuo nem flutua na indefinição.


Não está, evidentemente, em causa o princípio da separação entre a Igreja e o Estado. Só que esta separação não pode existir entre a fé e a vida: a fé está implicada na vida e a vida está implicada na fé.



2. A Turquia é um território onde o cristianismo já teve uma implantação considerável. Foi, por exemplo, na cidade de Antioquia que os discípulos de Jesus receberam, pela primeira vez, o nome de cristãos (cf. Act 11, 26).


Hoje, a presença cristã é praticamente residual. A religião predominante é o Islão. Nem sempre tem sido fácil a convivência.


Na Turquia figura também um dos locais associados ao grande cisma de 1054, que ainda não foi superado. De resto, o convite para esta visita papal partiu do Patriarca Ortodoxo, Bartolomeu.


Bento XVI revelou boa vontade nos dias em que por lá permaneceu. Apelou continuamente ao diálogo, à paz e à harmonia. Exibiu um enorme respeito pelos seguidores de outros credos.



3. Sendo assim, porquê toda a animosidade que se pressente em determinados sectores ante a figura do Santo Padre?


Se pensarmos um pouco, facilmente nos aperceberemos de um aspecto que não deixará de nos interpelar.


O actual Sumo Pontífice continua a ser tão conhecido pelo seu nome de baptismo como pelo seu nome papal. Joseph Ratzinger tornou-se alguém demasiado conhecido e, nessa medida, discutido também.


O seu pensamento é constantemente dissecado e a sua pessoa é continuamente analisada e, não raramente, contestada.


Acontece que tal conhecimento não é tão profundo e documentado quanto seria de esperar. Criaram um rótulo acerca do então Cardeal Ratzinger e não faltou quem arquitectasse uma imagem que pouco (ou nada) tem a ver com o original, o autêntico.


É claro que é um trunfo dispor de alguém como Joseph Ratzinger. Trata-se de uma mais-valia de enorme dimensão e imenso alcance. A sua inteligência, a sua segurança e a sua clareza extasiam quem tem a possibilidade de o escutar, de o ler e de o acompanhar. Mas todos temos noção de que nem sempre isso é reconhecido ou apreciado.



4. É tempo, portanto, de nos habituarmos a lidar com este Homem como ele verdadeiramente se apresenta. E que corresponde ao que ele genuinamente é.


É tempo de aprendermos, com ele, a olhar para lá dos nossos preconceitos e das fronteiras das próprias instituições. Para Ratzinger, «uma Igreja que fale muito dela não fala do que deveria falar».


O interesse da Igreja «não reside nela mesma, mas no Evangelho. A sua missão é anunciar a Palavra de Deus em toda a sua pureza e celebrar rectamente o culto divino e os sacramentos. A Igreja existe para que Deus seja dado a conhecer, para que o Homem possa aprender a viver com Deus, ante o Seu olhar e em comunhão com Ele».


Neste sentido, o Concílio Vaticano II «quis, a todo o transe, subordinar e incluir o tema da Igreja no tema de Deus, quis elaborar uma eclesiologia teológica».


Daí que a crise da Igreja resulte apenas de um factor: «do abandono do essencial».


Bento XVI não se cansa de nos reencaminhar para ele.


No blog: Theosfera

2 comentários:

Maria João disse...

Num mundo tão vasto como é a blogosfera, obrigado por nos mostrares o que há de melhor.

beijos em Cristo

Vítor Ramalho disse...

Gostei do blogue.
Aqui tão vizinhos e ainda não tinha dado conta.
Saudações