28.12.06

"Bom Natal!"


Que bom ouvir as pessoas dizerem umas às outras: "Bom Natal!" Que bom ver o olhar dessas mesmas pessoas ao dizerem estas palavras: parece que, neste dia, toda a gente sorri mais e melhor!

Internada há um mês, a D. Rosa está numa situação terminal. A definhar de dia para dia; os olhos começam a estar baços; os braços parecem umas linhas, de só pele e osso serem constituídos. Não tem forças. Não se mexe. Pede-me sempre para lhe ir levar a força da Comunhão.
Hoje, antes do almoço, fui ter com ela. Levar-lhe a Força. Rezámos.
No fim desejo-lhe um "Bom Natal!". E espero que ela não tenha visto o meu rosto. É verdade que sorri. Mas também chorei. O que é que ela teria entendido com o meu "Bom Natal!"? E o que é que eu teria querido dizer com o meu "Bom Natal"?
Mas de todo o coração lhe desejo mesmo "Bom Natal!"


Uma Enfermeira, dum outro serviço, pediu-me para ir junto da D. Cristina. "Sabe? Ela está muito triste por estar internada neste dia de Natal."
Dirigi-me a ela: chorava; com um choro sentido. É que só tem o marido; e ele, hoje, não a pode vir visitar. Mas compreende que ele não possa cá vir: como não tem transporte próprio, tem de estar sujeito a favores. E hoje é um dia em que as pessoas não estão disponíveis.
Ela ainda não se alimenta (desde 2ª feira passada): a intervenção cirúrgica a que foi submetida, não lho permite.
Conversámos um pouco. E, depois, disse: "Foi tão bom ter vindo junto a mim! Assim, também hoje, para mim, foi Natal!"

Também o sr. António não se pode alimentar. A sua boca é toda ela uma ferida. Mas estava todo contente porque, neste dia de Natal, se tinha lembrado do seu pároco. E diz: "Olhe, ele é a bondade em pessoa. Eu até já lhe disse que, se ele continuar a ser assim tão bom, não vai longe. Quando estou com ele, tenho uma vontade enorme de o abraçar. Homens com um coração assim, já não existem!"


No blog: Migalhas também são pão

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