1.8.07

Espiritualidade das Catacumbas


(2ª parte)

Espiritualidade sacramental

A espiritualidade das catacumbas é também sacramental. O mundo exterior da matéria entra, nos sacramentos cristãos, como sinal e como instrumento, realizando a redenção e a salvação do homem: Batismo e Eucaristia.Em nenhum outro cemitério encontram-se tantas representações sacramentais como as que encontramos nos Cubículos dos Sacramentos em São Calisto. Acenemos aos Sacramentos dos quais existe uma documentação maior.



BATISMO.


Não estamos ainda no tempo em que serão erigidos edifícios esplêndidos para honrar esse Sacramento (p. ex. o Batistério do Latrão). O Batismo ainda era conferido nas domus Ecclesiae, as casas de família, e não raramente em segredo. A grandeza do sacramento, porém, era conhecida. Paulo havia falado dele com termos grandiosos justamente na Carta aos Romanos (c. 6). Os cristãos sabiam que através do rito batismal, o homem morre e ressurge misticamente com Cristo, e é associado à vida divina pela eficácia desses atos redentores.Uma das mais antigas pinturas nos assim chamados Cubículos dos Sacramentos, em São Calisto (foto acima), mostra-nos o Batismo. Diante de um espelho d'água, senta-se um pescador que, com o seu anzol, tira um peixe para fora: agrada-nos ver nesse personagem um apóstolo, que obedece ao mandamento de Jesus: "Segui-me; eu vos farei pescadores de homens" (Mc 1,17).Muitos cristãos, "alcançados por Cristo" (Fl 3,12) após angustiantes experiências interiores, sentiam que o momento do Batismo marcara o início de uma vida nova. De aqui o nome que se lê numa lápide da tricora de São Calisto, nome que depois tornou-se tão comum na Cristandade: "Renatus": "Nasci de novo!".


EUCARISTIA.


E eis-nos diante da jóia destas Capelas: a trilogia eucarística.No afresco, os cristãos reunidos à mesa eucarística são sete, como os discípulos reunidos ao redor de Jesus ressuscitado às margens do lago; nos pratos diante deles está o peixe: Jesus Cristo Filho de Deus Salvador. Na cena à esquerda, o sacerdote estende as mãos sobre uma pequena mesa onde está o pão eucarístico: referência clara ao ato de consagração reservado aos ministros; do outro lado da mesa, um orante com os braços elevados recorda-nos que, para ir para o céu, é preciso nutrir-se daquele pão consagrado (a Eucaristia).O terceiro quadro, à direita, é claro a quem se lembra das palavras do hino de Santo Tomás: "In figuris praesignatur cum Isaac immolatur": "Na imolação de Isaac é prefigurado o sacrifício de Cristo".Não podemos deixar de lado uma representação, preciosa pela sua antigüidade e pelo seu grande valor pastoral. Na Cripta de Lucina, datada do séc. 2º, na parede diante da entrada, estão representados simetricamente dois peixes, diante dos quais estão colocados dois cestos cheios de pães (foto acima). Entrevêem-se nos cestos duas taças de vinho. O peixe é Cristo; pão e vinho são as espécies sob as quais Ele se faz presente na Eucaristia.Estamos nas fontes da cristandade. O cristão antigo, consciente de que "não existe sob o céu outro nome dado aos homens, no qual possam ser salvos, senão o de Cristo" (At 4,14), sabe que só pode ser associado a Cristo através dos Sacramentos instituídos por Ele com essa finalidade.

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