15.11.06

Contradições?


Uma curiosa onda de esquerdismo católico parece estar a varrer a América Latina. O último exemplo chega da Nicarágua, com a vitória do sandinista Daniel Ortega.
Lugar especial no debate político sul-americano, tem tido o tema do aborto, com a campanha a favor da vida feita bandeira pela esquerda mais agressiva. É, para já, um fenómeno que chama a atenção.
Através do
Timshel, cheguei a esta pergunta de Tomás Vasques:
"Como reagirá a malta do PCP/BE a este contratempo? Assobia para o ar, como é hábito? E este pessoal todo: Blogue do Não, Pela Vida, Quero Viver, Razões do Não, Sou a Favor da Vida, Viver a Sua Vida, também assobia para o ar?"
Estando este blogue incluído na lista, acolhi a pergunta como merecedora de atenção e resposta.
Há nesta questão um irónico tom provocatório, como se de repente, uns e outros tivéssemos de nos sentir incómodos por esta aparente "salada ideológica" que mistura num só prato o que nós parece servirmos por separado.
Sem querer explicar complexidades que não tenho a pretensão de dominar, limito-me a uma opinião que emerge do meu pouco saber.
Antes de mais, parece-me necessário evitar comparações entre realidades políticas com um percurso histórico muito diferente. Há muitas "esquerdas", como há muitas "direitas".
Relacionado com o anterior, não posso deixar de me interrogar sobre a influência da Teologia da Libertação na evolução da esquerda latino-americana.
E, sobretudo, os factos apontados como contraditórios, parecem-me confirmar o que já várias vezes tive oportunidade de escrever: o problema do aborto, a sua liberalização ou criminalização, ultrapassa largamente os limites das ideologias políticas, enraizando-se em convicções éticas, antropológicas, filosóficas e morais que antecedem e extravasam o conceito de pertença partidária.
Os exemplos que chegam do outro lado do charco deitam por terra a colagem entre liberalizaçäo/esquerda e anti-aborto/direita. Provam apenas que há muitas alternativas às categorizaçöes que na Europa se apresentam como inevitáveis.
Por outro lado (ou no mesmo lado, conforme se veja), a pergunta supracitada supõe a categorização à direita dos defensores do "não", em Portugal. O que é falso, como todas as generalizações.
Dito isto, resta o óbvio: embora partilhe com muita gente alinhada com fundamentalismos de direita a minha orientação de voto no Não, isso não significa que os convide para jantar.

No blog: Razões do não

2 comentários:

Ver para crer disse...

Conheço várias pessoas de esquerda que são pelo não. E também outras de direita que são pelo sim.
Ser contra ou a favor do aborto depende de muitos factores. Entre eles o do humanismo cristão.

PDivulg disse...

Eu penso que contra o Aborto há muita gente o verdadeiro problema está: se é ou não merecedor de pena, essa é outra questão... Por um lado o efeito da morte sobre o bébé (feto, embrião, ... chamem-lhe o que quiserem) por outro o lado degradante em que as mulheres sem condições o praticam comparativamente em que as mulheres com mais recursos o praticam...