18.11.06
Padres casados
Bento XVI convocou uma reunião ao mais alto nível sobre este problema e temas associados.
Penso que é importante não meter a cabeça na areia mas enfrentar sem dramatismos problemas que realmente existem e devem ser analisados.
1.Relativamente aos padres que não exercem o seu ministério, normalmente porque casaram, gostaria de recordar dois números.
Segundo o Anuário Católico de Portugal (2006), em 2003 havia em todo o mundo 268 041 pares diocesanos e 137 409 "religiosos", o que dá um total de 405 450 padres.
Segundo estimativas que correm pelos jornais, haverá padres sem poderem exercer cerca de 150 000.
Perante tais números, uma Igreja, onde o analfabetismo religioso é aflitivo, deveria pensar bem: ser legítimo ter tanta gente teológica e pastoralmente qualificada sem poder dar o seu contributo, atendendo a que a exigência do celibato nem é evangélica nem existe sequer nas Igrejas católicas do Oriente.
2. Não creio que o celibato seja a principal causa da falta de vocações sacerdotais. Parece-me que haverá outras razões mais fundas:
- dificuldade em aceitar compromissos para toda a vida;
- falta de vitalidade das comunidades cristãs;
- atmosfera relativista e permissiva da sociedade de hoje;
- "falta de fervor cristão";
- dificuldade em evangelizar um mundo em profunda mudança;
- depois haverá outras mais superficiais como a diminuição do estatuto social do clero; a desistência de alguns padres; a falta de modelos fortes de padre visíveis na sociedade de hoje.
3. Como a Eucaristia é o elemento estruturante da Igreja e de qualquer comunidade cristã, é urgente encontrar uma solução para o presidente da Eucaristia. Continuar a exigir um modelo tridentino de presidente celibatário, com não sei quantos anos de estudos teológicos (absolutamente indispensáveis para uma boa catequese, mas não necessários para presidir à Eucaristia) está visto que não resolve.
Uma solução já pedida por muitos bispos consistiria em ordenar como presidente da Eucaristia líderes das comunidades locais, depois de naturalmente uma preparação mínima e desde que sejam "bons" cristãos. Algo que encaixaria numa expresão ambígua mas muito utilizada: viri probati, "homens que deram provas". Homens e... também mulheres, embora devamos ir de forma faseada de modo a não escandalizar uma Igreja onde a esmagadora maioria ainda tem muito de conservadora e cuja trajectória espiritual e eclesial deve ser respeitada.
No blog:Fé e compromisso
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário