17.3.07

Tem de ser ele o padrinho


O João é meu acólito. Tem treze anos. É bastante responsável. Merece a minha atenção, como padre, como amigo, como companheiro. Entusiasmou-se com a ideia de ser padrinho da primita. Disse-mo a tia. Tem de ser ele o padrinho. E as normas? catequese dos dez anos. Ele só está no sétimo. E não há muitos que fizeram os dez anos e são crismados e não têm manifestação de fé visível e são padrinhos? Ela vencera esta primeira batalha. Mas as leis, mesmo as inventadas, vencem sempre, sobretudo por uma questão de igualdade. Falei disso, mas com alguma tristeza, pois percebia as suas razõesPressupõe-se que um padrinho tenha atingido a sua maturidade da fé. Por isso a, melhores que muitas das que escolhem padrinhos fáceis. E se ele não assinar, para já? Esperamos o crisma e os dezasseis anos. Só que isso criava precedentes. E se eu fosse a outro lado, a outra paróquia, passava-me uma declaração para ele ser padrinho? Claro que entendi, mas falei da incoerência. E já a pedir dó, relembrei que eles, como bons cristãos, deviam ser os primeiros a entender e a facilitar-me a decisão. Eles entendiam. Eram boa gente, de facto. Mas não queriam. E como explicar ao miúdo? Eu posso ajudar. Ele até já lhe ofereceu prendas, padre. Eu ia andando, porque tinha confissões à espreita. Esperavam-me uns colegas. Já quase em desespero, e espero que tenha sido só em desespero e sem pensar porque a frase não foi acertada. Isso agora não é importante. Importante é decidir que sim, que ele pode ser padrinho. Olhei com ar de autoritário. Este olhar não era meu. Era da decisão. Não gosto deste olhar. Abri a porta do carro para entrar. Insistia. Então a resposta é sim. Eu dizia que não. Olhe que vai ser sim. Ficamos combinados. Dizia isto quase a fugir para ter a certeza que não me ouvia dizer não e para que a sua consciência ditasse sim e não houvessem dúvidas. Não. Entrei também com a mesma forma de pensar.
E agora, como vai ser quando abrir definitivamente o carro e a encontrar de novo na reunião de preparação?

No blog: Confessionário de um padre

1 comentário:

Anónimo disse...

Valha-me Deus...Este foi o melhor dos blogues!?...
Assim...não!...