Era uma viagem de risco. Sê-lo-ia em qualquer circunstância, mas tornou-se ainda mais arriscada dadas as repercussões que o seu discurso em Ratisbona obteve.
Mostrou coragem em manter o programa. E revelou serenidade nas palavras e nas atitudes.
Os comentários incidiram, preferencialmente, sobre questões políticas e sobre a segurança.
É uma perspectiva legítima, mas desfoca o mais importante e desvia-nos do central. Como disse Sua Santidade à chegada, a sua peregrinação foi (como não podia deixar de ser) pastoral, apostólica. Inscreve-se, portanto, no âmbito da sua missão.
Como é óbvio, a missão do Sucessor de Pedro tem incidência na vida da polis. A mensagem de Jesus Cristo dirige-se à vida concreta das pessoas. Não paira no vácuo nem flutua na indefinição.
Não está, evidentemente, em causa o princípio da separação entre a Igreja e o Estado. Só que esta separação não pode existir entre a fé e a vida: a fé está implicada na vida e a vida está implicada na fé.
Hoje, a presença cristã é praticamente residual. A religião predominante é o Islão. Nem sempre tem sido fácil a convivência.
Na Turquia figura também um dos locais associados ao grande cisma de 1054, que ainda não foi superado. De resto, o convite para esta visita papal partiu do Patriarca Ortodoxo, Bartolomeu.
Bento XVI revelou boa vontade nos dias em que por lá permaneceu. Apelou continuamente ao diálogo, à paz e à harmonia. Exibiu um enorme respeito pelos seguidores de outros credos.
3. Sendo assim, porquê toda a animosidade que se pressente em determinados sectores ante a figura do Santo Padre?
Se pensarmos um pouco, facilmente nos aperceberemos de um aspecto que não deixará de nos interpelar.
O actual Sumo Pontífice continua a ser tão conhecido pelo seu nome de baptismo como pelo seu nome papal. Joseph Ratzinger tornou-se alguém demasiado conhecido e, nessa medida, discutido também.
O seu pensamento é constantemente dissecado e a sua pessoa é continuamente analisada e, não raramente, contestada.
Acontece que tal conhecimento não é tão profundo e documentado quanto seria de esperar. Criaram um rótulo acerca do então Cardeal Ratzinger e não faltou quem arquitectasse uma imagem que pouco (ou nada) tem a ver com o original, o autêntico.
É claro que é um trunfo dispor de alguém como Joseph Ratzinger. Trata-se de uma mais-valia de enorme dimensão e imenso alcance. A sua inteligência, a sua segurança e a sua clareza extasiam quem tem a possibilidade de o escutar, de o ler e de o acompanhar. Mas todos temos noção de que nem sempre isso é reconhecido ou apreciado.
4. É tempo, portanto, de nos habituarmos a lidar com este Homem como ele verdadeiramente se apresenta. E que corresponde ao que ele genuinamente é.
É tempo de aprendermos, com ele, a olhar para lá dos nossos preconceitos e das fronteiras das próprias instituições. Para Ratzinger, «uma Igreja que fale muito dela não fala do que deveria falar».
O interesse da Igreja «não reside nela mesma, mas no Evangelho. A sua missão é anunciar a Palavra de Deus em toda a sua pureza e celebrar rectamente o culto divino e os sacramentos. A Igreja existe para que Deus seja dado a conhecer, para que o Homem possa aprender a viver com Deus, ante o Seu olhar e em comunhão com Ele».
Neste sentido, o Concílio Vaticano II «quis, a todo o transe, subordinar e incluir o tema da Igreja no tema de Deus, quis elaborar uma eclesiologia teológica».
Daí que a crise da Igreja resulte apenas de um factor: «do abandono do essencial».
Bento XVI não se cansa de nos reencaminhar para ele.
No blog: Theosfera
2 comentários:
Num mundo tão vasto como é a blogosfera, obrigado por nos mostrares o que há de melhor.
beijos em Cristo
Gostei do blogue.
Aqui tão vizinhos e ainda não tinha dado conta.
Saudações
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