26.6.08

Ano Paulino


O papa Bento XVI proclamou um "Ano Paulino", para celebrar os 2000 anos do nascimento de São Paulo, com início na Solenidade dos Apóstolos Pedro e Paulo, a 29 de Junho de 2008, e a terminar um ano depois.
Paulo foi uma das figuras que marcou, de forma decisiva, a história do Cristianismo, o Apóstolo que anunciou o Evangelho em todo o mundo antigo, sem nunca vacilar perante as dificuldades, os perigos, a tortura, a prisão ou a morte.

Nasceu na cidade de Tarso, na Silícia, numa família judaica na diáspora, mas com cidadania romana. Paulo converteu-se com a "visão de Damasco" (Act 9,1-19; 22,4-21; 26,9-18) e posteriormente foi chamado a anunciar Cristo. Para isso percorreu muitos milhares de quilómetros, anunciando de cidade em cidade o "Evangelho" da morte e ressurreição de Jesus. Morreu em Roma, no ano 67.


Este Ano será oportunidade para todos conhecermos melhor a doutrina pregada por ele e copiarmos o seu exemplo de levar a Palavra de Deus a todos os que a não conhecem ou não a vivem.


Para ajudar nesse sentido, a Conferência Episcopal Portuguesa publicou uma nota pastoral intitulada "Ano Paulino, uma proposta pastoral", na qual os bispos portugueses assinalam que a Igreja de hoje "tem dificuldade em anunciar Jesus Cristo a uma sociedade cada vez mais secularizada".
"A Igreja hoje corre o risco de limitar o anúncio de Jesus Cristo àqueles que continuam no seu redil, compreendem a sua linguagem e conhecem as suas leis", alerta a conferência Episcopal.
Os Bispos procuram deixar claro que "evangelizar não é uma estratégia e não se reduz a um programa: é uma paixão de amor por Jesus Cristo e pelos nossos irmãos e irmãs".


Para viver este Ano, a Conferência Episcopal publicou um itinerário catequético, de 52 semanas, intitulado "Um ano a caminhar com São Paulo". Apresenta um tema para cada semana do ano e destina-se, além das pessoas individualmente, às famílias, aos grupos paroquiais, à pastoral juvenil e aos Movimentos.
In O Amigo do Povo/Ano Paulino

18.6.08

Noruega... para pensar


'Na Noruega, o horário de trabalho começa cedo (às 8 horas) e acaba cedo (às 15.30). As mães e os pais noruegueses têm uma parte significativa dos seus dias para serem pais, para proporcionar aos filhos algo mais do que um serão de televisão ou videojogos. Têm um ano de licença de maternidade e nunca ouviram falar de despedimentos por gravidez.'





'A riqueza que produzem nos seus trabalhos garante-lhes o maior nível salarial da Europa. Que é também, desculpem-me os menos sensíveis ao argumento, o mais igualitário. Todos descontam um IRS limpo e transparente que não é depois desbaratado em rotundas e estatuária kitsh, nem em auto-estradas (só têm 200 quilómetros dessas «alavancas de progresso»), nem em Expos e Euros.'




'É tempo de os empresários portugueses constatarem que, na Noruega, a fuga ao fisco não é uma «vantagem competitiva». Ali, o cruzamento de dados «devassa» as contas bancárias, as apólices de seguros, as propriedades móveis e imóveis e as «ofertas» de património a familiares que, em Portugal, país de gentes inventivas, garantem anonimato aos crimes e «confundem» os poucos olhos que se dedicam ao combate à fraude económica.'





'Mais do que os costumeiros «bons negócios», deviam os empresários portugueses pôr os olhos naquilo que a Noruega tem para nos ensinar. E, já agora, os políticos.

Numa crónica inspirada, o correspondente da TSF naquele país, afiança que os ministros não se medem pelas gravatas, nem pela alta cilindrada das suas frotas. Pelo contrário, andam de metro, e não se ofendem quando os tratam por tu. Aqui, cada ministério faz uso de dezenas de carros topo de gama, com vidros fumados para não dar lastro às ideias de transparência dos cidadãos. Os ministros portugueses fazem-se preceder de batedores motorizados, poluem o ambiente, dão maus exemplos e gastam a rodos o dinheiro que escasseia para assuntos verdadeiramente importantes.'




'Mais: os noruegueses sabem que não se «projecta o nome do país» com despesismos faraónicos, basta ser-se sensato e fazer da gestão das contas públicas um exercício de ética e responsabilidade. Arafat e Rabin assinaram um tratado de paz em Oslo. E, que se saiba, não foi preciso desbaratarem milhões de contos para que o nome da capital norueguesa corresse mundo por uma boa causa.'





'Até os clubes de futebol noruegueses, que pedem meças aos seus congéneres lusos em competições internacionais, nunca precisaram de pagar aos seus jogadores 400 salários mínimos por mês para que estes joguem à bola.

Nas gélidas terras dos vikings conheci empresários portugueses que ali montaram negócios florescentes. Um deles, isolado numa ilha acima do círculo polar Árctico, deixava elogios rasgados à «social-democracia nórdica». Ao tempo para viver e à segurança social.'

'Ali, naquele país, também há patos-bravos. Mas para os vermos precisamos de apontar binóculos para o céu. Não andam de jipe e óculos escuros. Não clamam por messias nem por prebendas. Não se queixam do «excessivo peso do Estado», para depois exigirem isenções e subsídios.'




É tempo de aprendermos que os bárbaros somos nós.

Seria meio caminho andado para nos civilizarmos.

No blog: Molhobico


Afectos e desafectos


Uma vida passada no estrangeiro: como emigrantes. Muito trabalho, poucas férias. Dois filhos. Lá os foram educando conforme o tempo e as possibilidades o permitiam. Chegado o tempo da reforma, o casal volta para a sua terra. Os filhos ficaram no país que os viu nascer e crescer.
Vêm a pensar gozar a reforma o melhor possível. Tinham o direito a isso. No entanto, sempre com uma vida regrada.
Mas... uma doença grave coloca a mulher de cama, donde nunca mais sairá. Um tumor a invade por completo de um momento para o outro. Os filhos são avisados: vêm cá passar uma semana.

A médica diz que a senhora está a necessitar de muito afecto e espera que os filhos lhe tragam o afecto necessário.
Primeira tarde de visita: chegam, dizem "boa tarde" e encostam-se à parede do quarto. Olham constantemente para o relógio. Passado 1/4 de hora dizem que têm de ir embora. "Mas ainda agora chegaram e já se vão embora!?!?", diz o pai. Eles replicaram: "Já te tínhamos dito que iríamos estar pouco tempo: temos de ir ver o jogo de Portugal!"
A noite é toda passada no jardim da casa a beber cerveja... a comemorar. Os vizinhos nem querem acreditar!
Durante os dias de estadia, o pai nunca é convidado para tomar seja que refeição for com eles. Retiraram todo o ouro que a mãe possuía. E lembram o pai de que era preciso dividir o dinheiro.

E lá partiu esta mãe, carente do afecto dos filhos.

E lá partiram eles com os bolsos cheios. Até sempre!


No blog: Migalhas também são pão

11.6.08

Devo muito à Igreja...


Convidada para ajudar num grupo pastoral da paróquia, apenas me disse: "Com todo o gosto. Devo muito à Igreja!"
Não lhe perguntei o quê, mas acredito que o mesmo poderiam e deveriam dizer muitíssimas outras pessoas. A igreja é decerto muito criticada, e às vezes não sem razão, – é composta por homens e mulheres imperfeitos – mas que seria o mundo sem ela?! Criticar é fácil, mas que outra instituição se pode comparar a ela no bem que tem feito.
Corria acesa a campanha eleitoral na Bélgica. Um deputado comunista dirigia a palavra a milhares de operários, em Bruxelas. Depois de ter apregoado a liberdade, criticado o capital, defendido as nacionalizações, elogiado os trabalhadores, exaltado o povo, atacou duma maneira agreste e desenfreada a Igreja Católica.
Acabado o discurso, perguntou se alguém desejava tomar a palavra. Adiantou-se um operário que disse assim:
– Eu não estudei, e não sei responder ao que disse o orador. Conto apenas um caso:
Há meses adoeceram os meus dois filhos. Uma freira vinha com frequência visitá-los, trazendo-lhes sempre alguma ajuda. As crianças curaram-se. Como a doença era contagiosa, a minha mulher caiu de cama, logo a seguir, com o mesmo mal. A Irmã levou as duas crianças porque ninguém em casa podia tratar delas. Tomou também sobre si o cuidado da minha mulher, que finalmente começou a levantar-se. Então caí doente também eu, mas a Irmã vinha sempre visitar-nos, trazia remédios, ajudava a minha mulher na vida da casa e tratava-me com muito jeito e caridade. Por último a Irmã contraiu o mesmo mal e não a tornámos mais a ver. Soube hoje que morreu. Não tenho mais a dizer (Mensageiro do Coração de Jesus, de Itália, 1951, pág. 390).
Facilmente se imagina o ambiente que aquele testemunho causou nos ouvintes. O político teve de enfiar a viola no saco e ir pregar para outra terra.
No blog: Ver para crer

9.6.08

Este Código de Trabalho agride os trabalhadores


D. Manuel da Silva Martins, o primeiro bispo de Setúbal, considerou este domingo que Portugal está marcado pela fome, principalmente junto dos idosos, sublinhando que o país está «mal disposto».
Escutado pela TSF, D. Manuel da Silva Martins frisou que «existe muita fome em Portugal, sobretudo nas famílias constituídas por reformados», onde o orçamento «vai quase todo para os remédios» dos idosos.
«Os responsáveis deste país deviam parar para reflectir um pouco e ver que caminhos deviam abrir para criar um clima de esperança em Portugal», disse aquele que se considera mais uma voz a juntar à de tantos portugueses que vivem mergulhados no desânimo perante as políticas sociais.

Questionado sobre a revisão do Código de Trabalho que já motivou uma manifestação, convocada pela CGTP, que juntou 200 mil pessoas em Lisboa, o primeiro bispo de Setúbal afirmou que o novo documento agride os trabalhadores.
«Este Código do Trabalho agride directamente a dignidade e a capacidade de sonhar sobretudo dos mais pobres e dos mais jovens», mas também das pessoas de meia-idade que ficam desempregadas, destacou, sublinhando que também este assunto merece «uma atenção redobrada por parte de quem manda».

No blog:
Asas da Montanha

4.6.08

“Quem passa a vida a julgar os outros fica sem tempo para os amar!”


“Quem passa a vida a julgar os outros fica sem tempo para os amar!”
(Madre Teresa de Calcutá)


Passamos a vida a julgar-nos uns aos outros! Parece que a nossa existência é para ser vivida na “barra do tribunal” e da constante avaliação de que somos alvos. Habitualmente o tribunal da vida é exigente e ainda mais cego que a justiça dos tribunais judiciais.
Toda a gente mede até ao limite aquilo que diz, aquilo que faz para que não haja segundas interpretações ou mal entendidos. Parece que precisamos fazer um auto de declarações cada vez que abrimos a boca…
Será que já não há gente genuína que não tenha medo de dizer o que pensa sem esperar ostracismo?! Será que não temos direito a pensar, de vez em quando, de forma diferente (quiçá errada!) sem que isso nos marque socialmente de forma definitiva? Haverá alguma lei que proíba termos o coração junto da boca?
No blog: A rede na rede

Oração na escola


«Deus escreve direito por linhas tortas» diz o povo e tem razão. Andam alguns a lutar contra os sinais religiosos nas escolas e outros lugares públicos. Até mesmo no nosso País o governo socialista mandou retirar os poucos crucifixos que ainda restavam em algumas escolas. Mas não há-de tardar muito que estas tenham de arranjar lugares de oração para quem o queira fazer. Pelo menos é o que se adivinha da notícia que alguns meios de comunicação social publicaram há dias e que resumimos a seguir:
«O Tribunal Administrativo de Berlim reconheceu o direito dos alunos muçulmanos a rezar nas escolas da cidade, às quais aconselhou a criação de salas de oração para aqueles estudantes».
«A sentença do tribunal dá razão a uma denúncia apresentada por um aluno do ensino secundário, de 14 anos, do Instituto de Ensino Médio Diesterweg, no bairro de Wedding de Berlim, que tinha reclamado o direito a orar pelo menos uma vez por dia durante uma pausa ou numa hora livre, de acordo com o jornal alemão ‘Berliner Zeitung’».
«A decisão judicial, para a qual foi interposto um recurso para uma instância superior pelas autoridades educativas da capital alemã, poderá tornar-se vinculativa para todas as escolas de Berlim, bem como de toda a Alemanha».
«O aluno, cuja identidade não foi divulgada, chamou a atenção da escola em Novembro último quando, com outros sete colegas, aproveitou uma pausa no horário para rezar num corredor da escola virado para Meca durante dez minutos».
«Ao tomar conhecimento do facto, a direcção da escola pôs-se imediatamente em contacto com os pais dos alunos, aos quais comunicou que o compromisso de neutralidade do Estado a obrigava a proibir aos alunos a prática da religião na escola.
Os pais do aluno de 14 anos e o próprio aluno apresentaram então uma queixa no Tribunal Administrativo de Berlim, cuja sentença dita que a liberdade de religião inclui também a liberdade da prática desta».
Se a sentença referida for confirmada pela Instância Superior, então não tardará que outros grupos religiosos requeiram os mesmos direitos, que terão de lhes ser concedidos. Na Alemanha e nos outros países da Comunidade Europeia. E lá irá por água abaixo o laicismo que muitos teimam em implantar na Europa. Graças ao temido Islão.
No blo: Ver para crer

2.6.08

Não sei o que é não ter emprego


As conversas particulares ou são segredos ou são receios ou são confidências. Às vezes são as três em simultâneo. Por isso entrámos no escritório para uma conversa particular. Eu sentado e ela em pé, como que para fugir na primeira dificuldade sem que eu tivesse oportunidade para agarrá-la, e como se a conversa não pudesse ser demorada.
Os pobres de hoje vivem assim, em pé para fugir, para não perder tempo, para não demorar a sensação das dificuldades, para não assumir que se precisa, para que ninguém possa murmurar a pobreza dos seus. Os pobres de hoje, que aumentaram em número e diminuíram o da classe média baixa, têm vergonha de precisar de ajuda.
O sorriso era forçado. Ter de justificar a sua necessidade precisava de um sorriso. Assim como precisava de sorrir para que os filhos sorrissem. Precisava de ajuda. Eu ouvia sem falar. Às vezes não conseguimos mais que ouvir, porque não sabemos as palavras ou gestos certos. E enquanto ela me falava das dificuldades da vida, lembrei-me de um jovem que, em tempos, decidira entrar no Seminário. Lembrei também as minhas gargalhadas quando me contaram que este, questionado sobre os motivos pelos quais queria ingressar no Seminário, respondera que assim tinha a certeza de arranjar emprego. Nada mais desapropriado, mas nada mais acertado. Emprego garantido. Trabalho sem horários definidos, mas sempre garantido. Remuneração indefinida, mas sempre garantida.
Por isso ao ouvi-la, senti-me atado. Estranhamente atado entre uma vida que escolhi por causa de Deus, mas que me facilita a causa dos homens. Reconheço que perante o meu trabalho, esforço e responsabilidade, a remuneração não é a suficiente. Mas perante a vida, os encargos e os outros, sinto-me um privilegiado. Não tenho nada. Porém, não me falta nada que, de facto, faça falta.
Escondi as mãos nos bolsos porque não sabia onde as colocar. Não fazia sentido ter uma mão aberta ou fechada. Não fazia sentido ter uma mão que não pudesse apertar outra. Era mais fácil escondê-la, atá-la, cerrá-la. Quando nos despedimos, retirei-a do bolso e mais o que lá estava. Mas o que é um peixe num mar imenso?! Sobretudo quando não se tem cana de pesca, rede ou barco?!
Claro que ser padre não é um emprego no verdadeiro sentido da palavra. É uma vocação, algo que se vive inclusive durante o sono. Ser padre define-me. Não é um atributo. Mas hoje, ao olhar aquele sorriso forçado, senti-me um privilegiado porque nunca senti o que é não ter emprego.
No blo: Confessionário de um padre